O que é e quanto poder tem o Clã do Golfo, maior grupo criminoso da Colômbia, incluído na lista de organizações terroristas pelos EUAO que é e quanto poder tem o Clã do Golfo, maior grupo criminoso da Colômbia, incluído na lista de organizações terroristas pelos EUA
Presidente Donald Trump diz que militares americanos cercaram a Venezuela
O Exército Gaitanista da Colômbia (EGC), mais conhecido como Clã do Golfo, foi designado como organização terrorista estrangeira pelo Departamento de Estado norte-americano.
“É uma organização violenta e poderosa, com milhares de integrantes. Sua principal fonte de renda é o tráfico de cocaína, usado para financiar suas atividades violentas”, afirma um comunicado do órgão chefiado por Marco Rubio.
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Originado de remanescentes do paramilitarismo dos anos 1990, o EGC, que afirma ter motivações políticas, é considerado o grupo criminoso mais poderoso da Colômbia.
É a quarta organização armada colombiana incluída pelos Estados Unidos na lista de organizações terroristas estrangeiras, ao lado do Exército de Libertação Nacional (ELN), das Farc-EP e da Segunda Marquetalia — essas duas últimas, dissidências das Farc que se desmobilizou após o acordo de paz de 2016.
A decisão de Washington ocorre em um momento de alta tensão na América Latina.
Desde setembro, militares norte-americanos têm atacado dezenas de embarcações supostamente ligadas ao narcotráfico no Caribe e no Pacífico sul-americano, deixando ao menos 95 mortos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem reiterado que a campanha contra o narcotráfico em breve incluirá ações terrestres na Venezuela.
Trump acusa o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar uma organização criminosa chamada Cartel dos Sóis, o que Maduro nega.
O líder americano também não descartou a possibilidade de ataques em território colombiano — o que gerou fortes críticas do presidente Gustavo Petro, recentemente sancionado pelos EUA por supostos vínculos com o narcotráfico.
O Clã do Golfo, por sua vez, está em negociações com o governo Petro como parte da estratégia de “paz total”. A designação do grupo como organização terrorista por parte dos Estados Unidos parece colocar todo esse contexto em suspenso.
O que é e como surgiu o Clã do Golfo
Estima-se que um terço dos 9 mil integrantes do EGC atue como um exército, disputando controle territorial com outros grupos armados na Colômbia.
Nadege Mazars/The Washington Post/Getty Images via BBC
A extensa região do Urabá, na fronteira com o Panamá e em torno de um golfo com saída para o Caribe, foi dominada nos anos 1990 pelas guerrilhas do Exército Popular de Libertação (EPL) e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Depois, entraram em cena as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), o exército paramilitar que combatia a insurgência.
O EPL e as AUC estão na origem das Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC, hoje EGC), ou Clã do Golfo, já que ex-integrantes de ambos os lados —em tese opostos e desmobilizados— se articularam em uma nova organização que, segundo analistas e o Estado, assumiu um perfil mais criminoso do que político.
O EGC cresceu em poder e controle territorial.
Uma investigação da Fundação Pares, na Colômbia, estima que o grupo esteja presente em 302 dos cerca de 1.100 municípios do país.
Segundo especialistas, esse é o principal fator que explica por que hoje o grupo domina atividades ilegais como extorsão, narcotráfico, migração irregular e mineração ilegal.
O tráfico de migrantes de centenas de milhares de pessoas entre 2021 e 2025 gerou uma importante injeção de recursos para comunidades locais na Colômbia e para grupos como o EGC, segundo especialistas.
Danilo Gomez/AFP/Getty Images via BBC
Víctor Barrera, pesquisador do Centro de Pesquisa e Educação Popular (Cinep), em Bogotá, afirma que o grupo “tem grande capacidade de mobilidade no território, porque opera por meio da subcontratação de serviços específicos conforme a situação exige”.
Esse sistema, semelhante ao de franquias empresariais e com integrantes assalariados, dificulta dimensionar sua extensão e facilita a rápida substituição de líderes capturados ou mortos.
“Hoje, estima-se que o EGC tenha cerca de 9 mil integrantes, segundo números oficiais, embora esteja em curso uma nova contagem que certamente elevará esse total”, disse à BBC Mundo Gerson Arias, pesquisador associado da Fundação Ideias para a Paz (FIP).
Segundo Arias, cerca de um terço do grupo atua como um exército, enquanto o restante é formado por redes de apoio, “milícias e redes de inteligência”, conhecidas internamente como “pontos urbanos, rurais ou militares”.
Os tentáculos do Clã também já foram identificados em países como Brasil, Argentina, Peru, Espanha e Honduras, onde alguns de seus integrantes foram presos.
Quem lidera a organização
Após a queda de Otoniel, o EGC se reorganizou e chegou até a ampliar seu domínio na Colômbia.
Getty Images via BBC
Durante 15 anos, desde o início dos anos 2000, a organização foi controlada pelos irmãos Dairo Antonio (Otoniel) e Juan de Dios Úsuga.
O grupo também era conhecido como Clã Úsuga.
Otoniel tornou-se o líder máximo após a morte do irmão em uma operação da Polícia Nacional durante uma invasão a uma “narcofesta” de réveillon, em 1º de janeiro de 2012.
Ele foi o criminoso mais procurado da Colômbia até ser capturado e extraditado para os Estados Unidos em 2021. Atualmente, cumpre uma pena de 45 anos em uma prisão norte-americana.
Após sua queda, os nomes de seus sucessores rapidamente passaram a circular na imprensa colombiana.
Um deles, Wílmer Giraldo, conhecido como Siopas, foi assassinado em 2023, supostamente por integrantes da própria organização.
Outro, Jesús Ávila, conhecido como “Chiquito Malo”, comanda o EGC e é um dos homens mais procurados do país sul-americano.
Crescimento recente
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Analistas da Fundação Pares indicam que o modelo de atuação do EGC, flexível e baseado em acordos com estruturas locais legais e ilegais, permite ao grupo crescer sem a necessidade de confrontos abertos.
Nos últimos anos, os também chamados de “urabenhos” ampliaram sua presença em territórios como o Bajo Cauca, Córdoba, o norte do Chocó e partes do Magdalena Medio.
“Esse crescimento se apoiou na capacidade de absorver quadrilhas locais, pressionar autoridades municipais e ocupar espaços onde a Força Pública não conseguiu manter uma presença suficiente e permanente”, afirma um relatório da Pares.
O grupo também se destacou por sua flexibilidade e diversificação econômica.
Durante os confinamentos da pandemia, em 2020 e 2021, ofereceu bens e serviços; e, quando explodiu o êxodo migratório de venezuelanos e equatorianos rumo aos EUA pelo Darién (região de selva entre Colômbia e Panamá), aliou-se a comunidades locais para extrair rendas expressivas do fenômeno.
Assim como outros grupos armados na Colômbia, o EGC aproveitou com êxito os espaços deixados pela desmobilização das Farc.
Entre 2022 e 2025, segundo a Pares, os gaitanistas cresceram em ritmo mais lento, embora relatos de sua expansão para áreas de mineração no sul do departamento de Bolívar indiquem uma busca por ampliar ainda mais sua presença territorial.
Negociações com o governo Petro
As negociações entre o EGC e o governo colombiano geram ceticismo na opinião pública da Colômbia.
Mahmud Hams/AFP/Getty Images via BBC
Quando Petro chegou ao governo, em agosto de 2022, prometeu negociar com vários grupos armados em sua busca pela “paz total”.
A iniciativa de também dialogar com o EGC gerou críticas no país, já que especialistas e opositores políticos questionam como uma organização considerada criminosa pelo Estado colombiano renunciaria às armas e às rendas milionárias geradas por seu controle territorial.
O EGC se vê como um grupo político e reivindica receber um tratamento semelhante ao dado às guerrilhas e aos paramilitares nas negociações de paz.
Recentemente, em uma reunião em Doha, no Catar, representantes do EGC e do governo colombiano assinaram um acordo para avançar gradualmente rumo a um possível desarmamento e à pacificação de territórios.
O tempo corre contra Petro, cujo mandato termina em agosto deste ano.
As ações dos Estados Unidos — que não parecem ceder em sua ofensiva contra o narcotráfico na América Latina — acrescentam incerteza às negociações de paz na Colômbia, que não têm apresentado os resultados esperados.
Ao mesmo tempo, alimentam o temor de que ocorram ataques em território colombiano, como advertiu Trump.
Como afirmou o Departamento de Estado em seu anúncio: “Os Estados Unidos continuarão usando todas as ferramentas disponíveis para proteger nossa nação e deter as campanhas de violência e terror cometidas por cartéis internacionais e organizações criminosas transnacionais”.
Petro afirmou que consideraria qualquer ameaça à soberania colombiana como uma “declaração de guerra”.

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.