Candidato apoiado por Trump é eleito em Honduras após atrasos e pleito contestado
Nasry Asfura á eleito presidente de Honduras
Nasry Asfura, candidato conservador do Partido Nacional, venceu a eleição presidencial de Honduras, informou o órgão eleitoral do país nesta quarta-feira (24). Ele é apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O país latino-americano foi às urnas em 30 de novembro, e a divulgação do vencedor ocorreu apenas agora, após semanas de atrasos, problemas técnicos e denúncias de fraude.
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Asfura substituirá a atual presidente, Xiomara Castro, que em 2021 levou a esquerda de volta ao poder hondurenho após 12 anos de governos conservadores.
“Honduras: estou pronto para governar”, escreveu Asfura em uma publicação nas redes sociais após o anúncio do resultado. “Não vou decepcionar vocês.”
A previsão é que Asfura assuma a presidência em 27 de janeiro, com mandato até 2030.
A autoridade eleitoral, conhecida como CNE, afirmou nesta quarta que Asfura obteve 40,3% dos votos, superando por pequena margem o candidato de centro-direita do Partido Liberal, Salvador Nasralla, que teve 39,5%.
A disputa acirrada e os problemas no sistema de apuração levaram à contagem manual de cerca de 15% das atas de votação — que somavam centenas de milhares de cédulas — para a definição do vencedor.
Nasry Asfura durante a campanha para as eleições em Honduras, em 22 de novembro de 2025.
Leonel Estrada/ Reuters
Segundo o jornal norte-americano “The New York Times”, observadores internacionais acompanharam de perto a eleição em Honduras e afirmaram que, apesar das acusações feitas por todos os lados, não encontraram evidências de manipulação do pleito.
“Não encontrei provas de fraude generalizada ou em larga escala”, disse na terça-feira Héctor Corrales, diretor do instituto de pesquisa hondurenho NODO, que atuou na missão de observação eleitoral da União Europeia.
O resultado foi aprovado por dois membros do conselho eleitoral e um suplente, em meio a disputas sobre a margem mínima de votos. O terceiro conselheiro, Marlon Ochoa, não apareceu no vídeo que declarou o vencedor.
Após a divulgação do resultado, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarou que os Estados Unidos “instam todas as partes a respeitar os resultados da votação para que as autoridades hondurenhas possam garantir uma transição pacífica para o presidente eleito”.
Asfura concorreu com uma plataforma amplamente pró-empresarial, defendendo que o investimento privado é necessário para impulsionar o país.
Sua agenda política se concentrou em emprego, educação e segurança. Ele também sinalizou que pode trocar o alinhamento diplomático de Honduras com Taiwan por Pequim.
Resultado contestado
O candidato de centro-direita Salvador Nasralla rejeitou a declaração da autoridade eleitoral, afirmando que o órgão excluiu cédulas que deveriam ter sido contabilizadas. Ainda assim, pediu a seus apoiadores que permanecessem calmos e evitassem qualquer ato de perturbação ou violência.
“Não aceitarei um resultado baseado em omissões. A democracia não se encerra por exaustão, nem porque hoje é dia 24 — este é o Natal mais triste para o povo hondurenho”, afirmou Nasralla em coletiva de imprensa, em Tegucigalpa. Esta foi sua terceira tentativa frustrada de chegar à Presidência de Honduras.
O presidente do Congresso hondurenho também rejeitou o resultado da eleição. “Isso está completamente fora da lei. Não tem valor”, escreveu Luis Redondo, do partido governista LIBRE, na rede social X.
O apoio de Donald Trump
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa para a nação na Casa Branca em 17 de dezembro de 2025
Doug Mills/Pool via REUTERS
Trump manifestou apoio a Asfura afirmando em uma publicação na Truth Social, antes da eleição, que ele era o “único verdadeiro defensor da liberdade em Honduras” e incentivando os eleitores a votarem nele.
O presidente americano chegou a ameaçar suspender a ajuda financeira dos EUA a Honduras caso Asfura não fosse eleito e concedeu perdão ao ex-presidente Juan Orlando Hernández, do mesmo Partido Nacional, que cumpria pena de 45 anos nos EUA por tráfico de drogas e crimes com armas.
Durante os atrasos na apuração, Trump voltou a se pronunciar sobre a eleição, acusando fraude sem apresentar evidências e advertindo que haveria “consequências” caso Honduras modificasse os resultados preliminares que colocavam Asfura à frente.
De acordo com especialistas, o apoio de Trump a Asfura integra uma estratégia para consolidar um bloco conservador na América Latina, que inclui líderes como Nayib Bukele, em El Salvador, e Javier Milei, na Argentina.
Nasralla e o partido governista LIBRE classificaram os comentários de Trump como interferência eleitoral. Em entrevista à agência Reuters no início de dezembro, Nasralla afirmou que a intervenção de última hora do presidente dos EUA comprometeu suas chances de vitória.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Albert Ramdin, declarou que a entidade “toma nota” do resultado e publicará nos próximos dias um relatório com conclusões e recomendações.
“A Secretaria-Geral está ciente das dificuldades enfrentadas durante o processo eleitoral, reconhece o trabalho realizado pelas instituições hondurenhas e lamenta que a recontagem completa dos votos ainda não tenha sido concluída”, afirmou Ramdin em publicação no X.
Quem é Nasry Asfura
Asfura nasceu em Tegucigalpa, em 8 de junho de 1958, em uma família de origem palestina. Iniciou o curso de engenharia civil, mas não o concluiu.
Nos anos 1990, atuou em diferentes administrações municipais, conquistando reputação de gestor eficiente e discreto. Também exerceu os cargos de deputado e ministro de Investimento Social.
Em 2013, foi eleito prefeito de Tegucigalpa e da região metropolitana, fortalecendo sua popularidade por meio de obras de infraestrutura. Recebeu o apelido de “Papi, às ordens”, que acabou se tornando o slogan mantido por sua equipe na campanha presidencial.
Embora projete uma imagem simples e trabalhadora, marcada pelo uso de jeans e camisas de mangas arregaçadas, Asfura é investigado, junto a ex-integrantes de sua gestão na capital, por suspeita de participação em um esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro. Ele sustenta que as acusações têm motivação política e nega qualquer irregularidade.
“Os extremos não funcionam”, declarou durante a campanha, ao ser questionado sobre uma possível ligação com a extrema direita.
“Precisamos buscar equilíbrio. As pessoas não se preocupam se você é feio ou bonito, de esquerda ou de direita, verde, vermelho ou azul; elas querem soluções.”
Os candidatos à presidência de Honduras Nasry Asfura, Rixi Moncada e Salvador Nasralla
Leonel Estrada e Fredy Rodriguez/ Reuters
* Com informações da agência de notícias Reuters

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.