Governo Trump indicia ex-chefe do FBI James Comey, crítico do presidente
O ex-diretor do FBI James Comey chega para dar um depoimento privado ao Congresso americano, em Washington (EUA).
Joshua Roberts / Reuters
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou, nesta quinta-feira (25), o ex-diretor do FBI James Comey por acusações criminais de falso testemunho e obstrução. Se for condenado, ele pode pegar até cinco anos de prisão.
O indiciamento é visto como mais um passo da campanha do presidente Donald Trump para retaliar pessoas que o investigaram ou criticaram durante seu mandato.
Em um vídeo postado no Instagram, Comey disse que é inocente e que tem fé no sistema judicial dos EUA. Segundo a imprensa americana, ele deve se apresentar às autoridades nesta sexta-feira (26).
“Estou com o coração partido pelo Departamento de Justiça, mas tenho grande confiança no sistema judiciário federal e sou inocente, então vamos ter um julgamento e manter a fé”, disse Comey.
Já Trump afirmou que o ex-chefe do FBI é “corrupto” e que foi acusado “por vários atos ilegais e ilícitos”.
“Ele tem sido tão ruim para o nosso país, por tanto tempo, e agora está começando a ser responsabilizado por seus crimes contra nossa nação”, escreveu na rede Truth Social.
Trump e Comey mantêm um relacionamento conturbado desde o início do primeiro mandato do presidente, em 2017. Trump o demitiu do cargo de diretor do FBI dias depois de Comey confirmar publicamente que o presidente estava sob investigação devido às conexões de sua campanha eleitoral com a Rússia.
Comey então se tornou um crítico proeminente do presidente, afirmando que ele era “moralmente inapto” para o cargo.
Atualidade
Janeiro/2017 – O presidente Donald Trump cumprimenta o diretor do FBI James Comey enquanto o diretor do serviço secreto Joseph Clancy (à esquerda) os observa durante a recepção inaugural de policiais e primeiros respondentes na Sala Azul da Casa Branca, em Washington, nos EUA, em janeiro 22 de 2017
Joshua Roberts/Reuters/Arquivo
Desde que Trump retornou à Casa Brancao, o Departamento de Justiça dos EUA vem examinando o depoimento de Comey em 2020 perante o Comitê Judiciário do Senado, quando ele abordou as críticas republicanas à investigação da Rússia e negou ter autorizado a divulgação de informações confidenciais à mídia.
A acusação formal do grande júri nesta quinta-feira veio após Trump pressionar a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, por não agir rápido o suficiente para apresentar acusações criminais contra Comey e outros grandes críticos do presidente.
Depois que a imprensa noticiou o indiciamento de James Comey, Bondi não mencionou o nome do ex-diretor do FBI, mas escreveu em uma rede social que “ninguém está acima da lei”.
“A acusação de hoje reflete o compromisso deste Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de posições de poder por enganar o povo americano. Acompanharemos os fatos desse caso.”
Tensões no Departamento de Justiça
Casa Branca alegou que Comey ‘não estaria apto a liderar efetivamente o FBI’
Reuters/Jonathan Ernst/Kevin Lamarque
O esforço para investigar James Comey vinha sendo encarado com ceticismo no Distrito Leste da Virgínia, a promotoria federal responsável pelo caso.
O principal procurador federal do distrito, Erik Siebert, renunciou na semana passada após enfrentar a ira de Trump por ter manifestado dúvidas sobre a solidez do caso, e a segunda na hierarquia, Mary “Maggie” Cleary, também expressou preocupações, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
Alguns outros promotores do escritório disseram ao sucessor de Siebert, Lindsey Halligan, que as acusações não deveriam ser apresentadas por falta de provas, de acordo com a Reuters.
Halligan atuava recentemente como assessora da Casa Branca e, antes disso, foi uma das advogadas de defesa pessoal de Trump.
A demissão de James Comey por Trump, em 2017, ocorreu depois de o então diretor do FBI confirmar publicamente que o presidente estava sob investigação por causa das ligações da campanha eleitoral com a Rússia.
Com a saída de Comey, foi nomeado outro ex-diretor do FBI, Robert Mueller, como procurador especial para conduzir a apuração sobre o caso. A investigação identificou diversos contatos entre a campanha e autoridades russas, mas concluiu que não havia provas suficientes para caracterizar uma associação criminosa.
Trump atacou repetidamente a investigação, chamando-a de “caça às bruxas”, e seu segundo governo buscou desacreditar as conclusões das agências de inteligência e de segurança dos EUA sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, nas quais Trump derrotou a democrata Hillary Clinton.
Um órgão de fiscalização interno do Departamento de Justiça encontrou evidências de diversos erros, mas não de viés político, na abertura da investigação pelo FBI. Republicanos sustentam há tempos que a apuração tinha como objetivo enfraquecer o primeiro governo de Trump.
Em um relatório de 2019, esse órgão de fiscalização criticou Comey por ter pedido a um amigo que entregasse ao New York Times memorandos detalhando suas interações privadas com Trump. O Departamento de Justiça, no entanto, decidiu não apresentar acusações criminais contra Comey durante o primeiro mandato de Trump.
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By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.