Primeiro-ministro do Japão decide renunciar ao cargo
Após o primeiro-ministro do Japão Shigeru Ishiba anunciar a sua renúncia ao cargo neste domingo (7), as atenções do mundo se voltam agora para quem será o próximo líder da quarta maior economia do mundo.
O processo para escolher o próximo líder do Japão é mais complexo do que antes, já que o conservador Partido Liberal Democrata (PLD) de Ishiba, que esteve no poder na maior parte do período pós-guerra, e seu parceiro de coalizão perderam a maioria em ambas as casas do Parlamento.
A seguir, veja como funciona a sucessão no Japão, além de como está o cenário político no país.
Etapa 1: eleição no partido
Etapa 2: votação no Parlamento
Quem são os mais cotados para o cargo
O primeiro-ministro do Japão Shigeru Ishiba em coletiva de imprensa ao anunciar sua renúncia
Toru Hanai/Reuters
Etapa 1: eleição no partido
Shigeru Ishiba renunciou à liderança de seu partido, o PLD, que agora terá de escolher um sucessor. A data da eleição interna ainda não foi definida.
Na última eleição partidária, em setembro de 2024, os candidatos precisavam obter 20 indicações de parlamentares para serem elegíveis.
Os candidatos passam por debates e campanhas em todo o Japão, terminando em uma votação entre parlamentares e outros membros do partido. Na última disputa, havia nove concorrentes, e Ishiba venceu no segundo turno.
Na primeira rodada, cada parlamentar tem um voto, com um número igual distribuído entre os membros do partido.
O candidato que obtiver maioria simples se torna presidente do partido. Caso ninguém alcance a maioria, ocorre um segundo turno entre os dois candidatos mais votados.
No segundo turno, cada parlamentar mantém um voto, mas a parcela dos membros do partido cai para 47 votos — um para cada prefeitura do Japão. Prefeitura é como é chamada a primeira divisão administrativa japonesa, semelhante a um estado no Brasil.
Em caso de empate, o vencedor é definido por sorteio.
Etapa 2: votação no Parlamento
Como o partido PLD não tem maioria em nenhuma das casas do Parlamento japonês, não há garantia de que o presidente do PLD se tornará primeiro-ministro.
O Parlamento japonês é dividido entre:
Câmara Baixa, com 465 cadeiras;
Câmara Alta, com 248 cadeiras.
Em 1994, o PLD formou uma aliança tripartite com o rival Partido Socialista Japonês e um outro partido menor para retomar o poder, elegendo o socialista Tomiichi Murayama como primeiro-ministro. Ele esteve à frente do poder até 1996.
Seguindo o precedente, a Câmara Baixa, mais poderosa, vota primeiro. Parlamentares podem indicar qualquer candidato da Câmara, e historicamente líderes da oposição foram apresentados à votação.
O candidato que obtiver maioria simples na primeira rodada é aprovado. Caso contrário, há segundo turno entre os dois mais votados.
Em seguida, a votação passa à Câmara Alta, com processo semelhante, embora apenas membros da Câmara Baixa possam ser primeiro-ministro.
Se houver divergência entre as casas, prevalece a decisão da Câmara Baixa, como ocorreu em 2008, quando a Câmara Baixa escolheu o candidato do PLD e a Câmara Alta indicou um da oposição.
O novo primeiro-ministro pode, então, convocar eleições gerais antecipadas para obter um mandato nacional.
Quem são os mais cotados para o cargo
Sanae Takaichi, do PLD
Se escolhida, ela poderia ser a primeira primeira-ministra na história do Japão. Veterana do partido, aos 64 anos, ocupou diversos cargos, incluindo ministra da Segurança Econômica e de Assuntos Internos, e perdeu para Ishiba na eleição interna do PLD no ano passado.
É conhecida por posições conservadoras, como revisar a Constituição pacifista do pós-guerra, e por visitar regularmente o santuário Yasukuni, símbolo do militarismo japonês para alguns vizinhos asiáticos.
Takaichi se destaca pela oposição pública às altas taxas de juros do Banco do Japão e por defender aumento de gastos para estimular a economia frágil.
Sanae Taikichi fala durante debate em Tóquio em setembro de 2024
Takashi Aoyama/Reuters/Arquivo
Shinjiro Koizumi, do PLD
Tem 44 anos e é herdeiro de uma dinastia política que governa o Japão há mais de um século. Koizumi, se eleito, seria o primeiro-ministro mais jovem da era moderna.
Também concorrente na eleição interna do ano passado, se apresentou como reformista capaz de restaurar a confiança pública em um partido envolvido em escândalos.
Diferentemente de Takaichi, que deixou o governo após a derrota, Koizumi permaneceu próximo de Ishiba como ministro da Agricultura, supervisionando a tentativa de controlar a alta dos preços do arroz.
Como ministro do Meio Ambiente, em 2019, defendeu a eliminação de reatores nucleares, gerando críticas por dizer que a política climática precisava ser “cool e sexy”. Pouco se sabe sobre suas posições econômicas, incluindo sobre o Banco do Japão.
O ministro da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão, Shinjiro Koizumi, fala durante um evento em Tóquio em maio de 2025
Kim Kyung-Hoon/Reuters/Arquivo
Yoshimasa Hayashi, do PLD
Hayashi, de 64 anos, é secretário-chefe do gabinete desde dezembro de 2023, atuando como principal porta-voz do governo, sob os primeiros-ministros Fumio Kishida e Ishiba. Já ocupou pastas de Defesa, Relações Exteriores e Agricultura, frequentemente assumindo cargos interinamente após renúncias.
Fluente em inglês, trabalhou na Mitsui & Co., estudou na Harvard Kennedy School e foi assessor de congressistas e senadores dos EUA.
Concorrente nas eleições internas do PLD em 2012 e 2024, defende repetidamente a independência do Banco do Japão na política monetária.
O secretário-chefe de gabinete do Japão, Yoshimasa Hayashi, durante um debate em setembro de 2024
Takashi Aoyama/Reuters/Arquivo
Yoshihiko Noda, do Partido Democrático Constitucional do Japão (CDP)
Ex-primeiro-ministro, de 68 anos, lidera o maior grupo de oposição, os democratas constitucionais de centro-esquerda.
Como premiê (2011-2012), trabalhou com o PLD para dobrar o imposto sobre consumo para 10%, ganhando reputação de fiscal rigoroso. O imposto chegou a 10% em 2019 para a maioria dos itens.
Nas eleições da Câmara Alta em julho, Noda defendeu corte temporário do imposto sobre alimentos e pede o fim gradual do grande estímulo do Banco do Japão.
Yoshihiko Noda, líder do principal partido de oposição do Japão, durante a eleição para a Câmara Alta em julho de 2025
Issei Kato/Reuters/Arquivo
Yuichiro Tamaki, do Partido Democrático para o Povo (DPP)
É líder do partido de centro-direita em rápido crescimento nas eleições recentes. Ex-burocrata do Ministério das Finanças, cofundou o DPP em 2018 e defende aumento da renda líquida da população por meio de expansão de isenções fiscais e redução do imposto sobre consumo. Tem 56 anos.
Apoia fortalecimento da defesa, regras mais rígidas para aquisição de terras por estrangeiros e construção de novas usinas nucleares.
Tamaki pede cautela ao Banco do Japão na retirada do estímulo, defendendo que espere até que os salários reais cresçam para sustentar o consumo.
Yuichiro Tamaki durante entrevista à Reuters em novembro de 2024
Kim Kyung-Hoon/Reuters/Arquivo
Após o primeiro-ministro do Japão Shigeru Ishiba anunciar a sua renúncia ao cargo neste domingo (7), as atenções do mundo se voltam agora para quem será o próximo líder da quarta maior economia do mundo.
O processo para escolher o próximo líder do Japão é mais complexo do que antes, já que o conservador Partido Liberal Democrata (PLD) de Ishiba, que esteve no poder na maior parte do período pós-guerra, e seu parceiro de coalizão perderam a maioria em ambas as casas do Parlamento.
A seguir, veja como funciona a sucessão no Japão, além de como está o cenário político no país.
Etapa 1: eleição no partido
Etapa 2: votação no Parlamento
Quem são os mais cotados para o cargo
O primeiro-ministro do Japão Shigeru Ishiba em coletiva de imprensa ao anunciar sua renúncia
Toru Hanai/Reuters
Etapa 1: eleição no partido
Shigeru Ishiba renunciou à liderança de seu partido, o PLD, que agora terá de escolher um sucessor. A data da eleição interna ainda não foi definida.
Na última eleição partidária, em setembro de 2024, os candidatos precisavam obter 20 indicações de parlamentares para serem elegíveis.
Os candidatos passam por debates e campanhas em todo o Japão, terminando em uma votação entre parlamentares e outros membros do partido. Na última disputa, havia nove concorrentes, e Ishiba venceu no segundo turno.
Na primeira rodada, cada parlamentar tem um voto, com um número igual distribuído entre os membros do partido.
O candidato que obtiver maioria simples se torna presidente do partido. Caso ninguém alcance a maioria, ocorre um segundo turno entre os dois candidatos mais votados.
No segundo turno, cada parlamentar mantém um voto, mas a parcela dos membros do partido cai para 47 votos — um para cada prefeitura do Japão. Prefeitura é como é chamada a primeira divisão administrativa japonesa, semelhante a um estado no Brasil.
Em caso de empate, o vencedor é definido por sorteio.
Etapa 2: votação no Parlamento
Como o partido PLD não tem maioria em nenhuma das casas do Parlamento japonês, não há garantia de que o presidente do PLD se tornará primeiro-ministro.
O Parlamento japonês é dividido entre:
Câmara Baixa, com 465 cadeiras;
Câmara Alta, com 248 cadeiras.
Em 1994, o PLD formou uma aliança tripartite com o rival Partido Socialista Japonês e um outro partido menor para retomar o poder, elegendo o socialista Tomiichi Murayama como primeiro-ministro. Ele esteve à frente do poder até 1996.
Seguindo o precedente, a Câmara Baixa, mais poderosa, vota primeiro. Parlamentares podem indicar qualquer candidato da Câmara, e historicamente líderes da oposição foram apresentados à votação.
O candidato que obtiver maioria simples na primeira rodada é aprovado. Caso contrário, há segundo turno entre os dois mais votados.
Em seguida, a votação passa à Câmara Alta, com processo semelhante, embora apenas membros da Câmara Baixa possam ser primeiro-ministro.
Se houver divergência entre as casas, prevalece a decisão da Câmara Baixa, como ocorreu em 2008, quando a Câmara Baixa escolheu o candidato do PLD e a Câmara Alta indicou um da oposição.
O novo primeiro-ministro pode, então, convocar eleições gerais antecipadas para obter um mandato nacional.
Quem são os mais cotados para o cargo
Sanae Takaichi, do PLD
Se escolhida, ela poderia ser a primeira primeira-ministra na história do Japão. Veterana do partido, aos 64 anos, ocupou diversos cargos, incluindo ministra da Segurança Econômica e de Assuntos Internos, e perdeu para Ishiba na eleição interna do PLD no ano passado.
É conhecida por posições conservadoras, como revisar a Constituição pacifista do pós-guerra, e por visitar regularmente o santuário Yasukuni, símbolo do militarismo japonês para alguns vizinhos asiáticos.
Takaichi se destaca pela oposição pública às altas taxas de juros do Banco do Japão e por defender aumento de gastos para estimular a economia frágil.
Sanae Taikichi fala durante debate em Tóquio em setembro de 2024
Takashi Aoyama/Reuters/Arquivo
Shinjiro Koizumi, do PLD
Tem 44 anos e é herdeiro de uma dinastia política que governa o Japão há mais de um século. Koizumi, se eleito, seria o primeiro-ministro mais jovem da era moderna.
Também concorrente na eleição interna do ano passado, se apresentou como reformista capaz de restaurar a confiança pública em um partido envolvido em escândalos.
Diferentemente de Takaichi, que deixou o governo após a derrota, Koizumi permaneceu próximo de Ishiba como ministro da Agricultura, supervisionando a tentativa de controlar a alta dos preços do arroz.
Como ministro do Meio Ambiente, em 2019, defendeu a eliminação de reatores nucleares, gerando críticas por dizer que a política climática precisava ser “cool e sexy”. Pouco se sabe sobre suas posições econômicas, incluindo sobre o Banco do Japão.
O ministro da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão, Shinjiro Koizumi, fala durante um evento em Tóquio em maio de 2025
Kim Kyung-Hoon/Reuters/Arquivo
Yoshimasa Hayashi, do PLD
Hayashi, de 64 anos, é secretário-chefe do gabinete desde dezembro de 2023, atuando como principal porta-voz do governo, sob os primeiros-ministros Fumio Kishida e Ishiba. Já ocupou pastas de Defesa, Relações Exteriores e Agricultura, frequentemente assumindo cargos interinamente após renúncias.
Fluente em inglês, trabalhou na Mitsui & Co., estudou na Harvard Kennedy School e foi assessor de congressistas e senadores dos EUA.
Concorrente nas eleições internas do PLD em 2012 e 2024, defende repetidamente a independência do Banco do Japão na política monetária.
O secretário-chefe de gabinete do Japão, Yoshimasa Hayashi, durante um debate em setembro de 2024
Takashi Aoyama/Reuters/Arquivo
Yoshihiko Noda, do Partido Democrático Constitucional do Japão (CDP)
Ex-primeiro-ministro, de 68 anos, lidera o maior grupo de oposição, os democratas constitucionais de centro-esquerda.
Como premiê (2011-2012), trabalhou com o PLD para dobrar o imposto sobre consumo para 10%, ganhando reputação de fiscal rigoroso. O imposto chegou a 10% em 2019 para a maioria dos itens.
Nas eleições da Câmara Alta em julho, Noda defendeu corte temporário do imposto sobre alimentos e pede o fim gradual do grande estímulo do Banco do Japão.
Yoshihiko Noda, líder do principal partido de oposição do Japão, durante a eleição para a Câmara Alta em julho de 2025
Issei Kato/Reuters/Arquivo
Yuichiro Tamaki, do Partido Democrático para o Povo (DPP)
É líder do partido de centro-direita em rápido crescimento nas eleições recentes. Ex-burocrata do Ministério das Finanças, cofundou o DPP em 2018 e defende aumento da renda líquida da população por meio de expansão de isenções fiscais e redução do imposto sobre consumo. Tem 56 anos.
Apoia fortalecimento da defesa, regras mais rígidas para aquisição de terras por estrangeiros e construção de novas usinas nucleares.
Tamaki pede cautela ao Banco do Japão na retirada do estímulo, defendendo que espere até que os salários reais cresçam para sustentar o consumo.
Yuichiro Tamaki durante entrevista à Reuters em novembro de 2024
Kim Kyung-Hoon/Reuters/Arquivo