Cineasta brasileira Barbara Marques
Divulgação
Em 16 de setembro, a cineasta brasileira Barbara Marques e o marido, o americano Tucker May, entraram esperançosos no escritório do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA, no centro de Los Angeles, na Califórnia.
Era a primeira entrevista de Barbara no longo processo de pedido de residência permanente, o chamado “green card”, depois do casamento dos dois em abril.
“Eu tinha ressalvas porque o processo estava andando rápido demais”, disse Tucker em entrevista à BBC News Brasil. Ele sabia da política rígida de imigração do presidente americano, Donald Trump, e temia que algo pudesse acontecer com a esposa.
“Até pensei que poderia ser uma armadilha. Mas a Barbara estava muito animada, e eu não queria cortar o clima.”
Segundo Tucker, a entrevista correu bem. Barbara e Tucker estavam acompanhados da advogada que havia ajudado a preparar o processo do casal.
Quando parecia que a entrevista tinha acabado, a advogada perguntou se havia algo mais que eles precisavam fazer.
O funcionário da imigração disse que só faltava uma cópia do passaporte de Barbara, mas que a máquina dele estava quebrada e que a brasileira teria de acompanhá-lo até outra sala, conta o marido.
Barbara foi – e nunca voltou.
No caminho, foi detida por agentes do serviço de imigração, ou ICE (na sigla em inglês).
“Depois de uns 15 minutos, eu comecei a sentir um embrulho no estômago. Foi quando um funcionário do ICE veio contar que ela tinha sido presa”, contou Tucker.
Os agentes explicaram para Barbara que o motivo da sua detenção era sua ausência em uma audiência de regularização de visto em 2019, o que teria gerado uma ordem de deportação, diz Tucker.
Segundo o advogado do caso, Marcelo Gondim, Barbara entrou nos EUA com um visto de turista em 2018.
Próximo ao vencimento, ela pediu uma extensão desse visto. Segundo Gondim, ela não foi notificada da negativa nem da data da audiência – provavelmente porque mudou de endereço.
O advogado disse que Barbara não tem antecedentes criminais e que o procedimento padrão teria sido interromper o pedido do green card e dar um prazo de 30 dias para resolver a questão pendente.
Barbara tem 38 anos e é de Vitória, no Espírito Santo. Ela se formou em cinema pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e atuou como atriz e produtora antes de dirigir seu primeiro filme, Dias de Cosme e Damião, em 2016. Ela também assina a direção de Cartaxo (2020) e PRETAS (2021).
A lei dos Estados Unidos estipula que estar no país sem autorização é uma violação civil – e não um crime.
Isso significa que, no caso de um pedido de extensão de visto ser negado, por exemplo, o Departamento de Segurança Interna pode iniciar um processo de deportação com multa, mas não fazer pode acusar a pessoa criminalmente.
Sob o governo de Donald Trump, agentes têm detido imigrantes e a meta passou a ser deportação massiva de pessoas sem documentos, mesmo que não tenham antecedentes criminais.
O objetivo do governo é prender 3 mil imigrantes por dia, sob o argumento de que a imigração afeta índices de segurança e o acesso dos americanos aos serviços públicos. Já os críticos de Trump dizem que o ICE tem violado direitos constitucionais.
O Itamaraty confirmou que tem conhecimento do caso de Barbara Marques e disse que presta assistência consular à brasileira. A BBC News Brasil entrou em contato com o ICE, mas não recebeu retorno até a publicação dessa reportagem.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) entrou, no dia 23 de setembro, com uma ação judicial coletiva alegando que o governo está negando processo legal para imigrantes que têm esse direito e prendendo as pessoas arbitrariamente.
‘Ela se desesperou’
Naquele dia da entrevista com a esposa, depois de percorrer diferentes partes do prédio, Tucker conseguiu encontrar Barbara e falar com ela através de uma parede de vidro. Ela estava em choque, chorando muito e com algemas nas mãos e nos pés, na descrição dele.
“Ela contou que quando foi algemada, ela se desesperou e que o agente riu da cara dela e tirou uma selfie com ela chorando”, disse Tucker. “Não há nenhum senso de humanidade. Parece que eles sentem prazer na crueldade.”
Barbara foi inicialmente levada para o centro de detenção em Adelanto, leste de Los Angeles.
O advogado do caso entrou com pedido de habeas corpus no mesmo dia da detenção e com uma ordem de restrição temporária de emergência, para que Barbara permaneça na Califórnia.
Mas uma juíza só foi acionada para o caso no domingo, dia 28. Gondim também enviou a Barbara um pedido de acesso ao processo para tentar reabrir a ordem de deportação, mas, segundo Tucker, as autoridades têm limitado o acesso de Barbara aos documentos.
“Consegui mandar uma carta para ela que chegou muito mais rápido do que a papelada do nosso advogado, o que indica que eles conseguem identificar que tipo de correspondência talvez ajude os detidos a avançarem em seus casos e, por alguma razão, leva muito mais tempo para que eles recebam essa documentação.”
Tucker disse que conseguiu falar com a esposa algumas vezes. No sábado, dia 27, ela tinha sido transferida para o Arkansas e hoje está na Louisiana.
“Ela está completamente aterrorizada. Ela me contou que ficaram mais de 12 horas sem nenhuma comida e, quando receberam, era pão com queijo. É uma combinação de tratamento desumano, de desrespeito ao Estado de direito e do aparente prazer que esses agentes do ICE parecem sentir ao atormentar as pessoas que deveriam estar sob seus cuidados”, disse Tucker.
A comunidade brasileira de Pasadena, onde Barbara mora, lamentou a notícia. “A Barbara veio para cá para realizar seu sonho de trabalhar em cinema e sempre me pareceu uma pessoa gentil e pé no chão”, conta o brasileiro Christopher de Barros. “Fiquei chocado e horrorizado ao saber das condições da detenção dela.”
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Em 16 de setembro, a cineasta brasileira Barbara Marques e o marido, o americano Tucker May, entraram esperançosos no escritório do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA, no centro de Los Angeles, na Califórnia.
Era a primeira entrevista de Barbara no longo processo de pedido de residência permanente, o chamado “green card”, depois do casamento dos dois em abril.
“Eu tinha ressalvas porque o processo estava andando rápido demais”, disse Tucker em entrevista à BBC News Brasil. Ele sabia da política rígida de imigração do presidente americano, Donald Trump, e temia que algo pudesse acontecer com a esposa.
“Até pensei que poderia ser uma armadilha. Mas a Barbara estava muito animada, e eu não queria cortar o clima.”
Segundo Tucker, a entrevista correu bem. Barbara e Tucker estavam acompanhados da advogada que havia ajudado a preparar o processo do casal.
Quando parecia que a entrevista tinha acabado, a advogada perguntou se havia algo mais que eles precisavam fazer.
O funcionário da imigração disse que só faltava uma cópia do passaporte de Barbara, mas que a máquina dele estava quebrada e que a brasileira teria de acompanhá-lo até outra sala, conta o marido.
Barbara foi – e nunca voltou.
No caminho, foi detida por agentes do serviço de imigração, ou ICE (na sigla em inglês).
“Depois de uns 15 minutos, eu comecei a sentir um embrulho no estômago. Foi quando um funcionário do ICE veio contar que ela tinha sido presa”, contou Tucker.
Os agentes explicaram para Barbara que o motivo da sua detenção era sua ausência em uma audiência de regularização de visto em 2019, o que teria gerado uma ordem de deportação, diz Tucker.
Segundo o advogado do caso, Marcelo Gondim, Barbara entrou nos EUA com um visto de turista em 2018.
Próximo ao vencimento, ela pediu uma extensão desse visto. Segundo Gondim, ela não foi notificada da negativa nem da data da audiência – provavelmente porque mudou de endereço.
O advogado disse que Barbara não tem antecedentes criminais e que o procedimento padrão teria sido interromper o pedido do green card e dar um prazo de 30 dias para resolver a questão pendente.
Barbara tem 38 anos e é de Vitória, no Espírito Santo. Ela se formou em cinema pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e atuou como atriz e produtora antes de dirigir seu primeiro filme, Dias de Cosme e Damião, em 2016. Ela também assina a direção de Cartaxo (2020) e PRETAS (2021).
A lei dos Estados Unidos estipula que estar no país sem autorização é uma violação civil – e não um crime.
Isso significa que, no caso de um pedido de extensão de visto ser negado, por exemplo, o Departamento de Segurança Interna pode iniciar um processo de deportação com multa, mas não fazer pode acusar a pessoa criminalmente.
Sob o governo de Donald Trump, agentes têm detido imigrantes e a meta passou a ser deportação massiva de pessoas sem documentos, mesmo que não tenham antecedentes criminais.
O objetivo do governo é prender 3 mil imigrantes por dia, sob o argumento de que a imigração afeta índices de segurança e o acesso dos americanos aos serviços públicos. Já os críticos de Trump dizem que o ICE tem violado direitos constitucionais.
O Itamaraty confirmou que tem conhecimento do caso de Barbara Marques e disse que presta assistência consular à brasileira. A BBC News Brasil entrou em contato com o ICE, mas não recebeu retorno até a publicação dessa reportagem.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) entrou, no dia 23 de setembro, com uma ação judicial coletiva alegando que o governo está negando processo legal para imigrantes que têm esse direito e prendendo as pessoas arbitrariamente.
‘Ela se desesperou’
Naquele dia da entrevista com a esposa, depois de percorrer diferentes partes do prédio, Tucker conseguiu encontrar Barbara e falar com ela através de uma parede de vidro. Ela estava em choque, chorando muito e com algemas nas mãos e nos pés, na descrição dele.
“Ela contou que quando foi algemada, ela se desesperou e que o agente riu da cara dela e tirou uma selfie com ela chorando”, disse Tucker. “Não há nenhum senso de humanidade. Parece que eles sentem prazer na crueldade.”
Barbara foi inicialmente levada para o centro de detenção em Adelanto, leste de Los Angeles.
O advogado do caso entrou com pedido de habeas corpus no mesmo dia da detenção e com uma ordem de restrição temporária de emergência, para que Barbara permaneça na Califórnia.
Mas uma juíza só foi acionada para o caso no domingo, dia 28. Gondim também enviou a Barbara um pedido de acesso ao processo para tentar reabrir a ordem de deportação, mas, segundo Tucker, as autoridades têm limitado o acesso de Barbara aos documentos.
“Consegui mandar uma carta para ela que chegou muito mais rápido do que a papelada do nosso advogado, o que indica que eles conseguem identificar que tipo de correspondência talvez ajude os detidos a avançarem em seus casos e, por alguma razão, leva muito mais tempo para que eles recebam essa documentação.”
Tucker disse que conseguiu falar com a esposa algumas vezes. No sábado, dia 27, ela tinha sido transferida para o Arkansas e hoje está na Louisiana.
“Ela está completamente aterrorizada. Ela me contou que ficaram mais de 12 horas sem nenhuma comida e, quando receberam, era pão com queijo. É uma combinação de tratamento desumano, de desrespeito ao Estado de direito e do aparente prazer que esses agentes do ICE parecem sentir ao atormentar as pessoas que deveriam estar sob seus cuidados”, disse Tucker.
A comunidade brasileira de Pasadena, onde Barbara mora, lamentou a notícia. “A Barbara veio para cá para realizar seu sonho de trabalhar em cinema e sempre me pareceu uma pessoa gentil e pé no chão”, conta o brasileiro Christopher de Barros. “Fiquei chocado e horrorizado ao saber das condições da detenção dela.”