Castigado nas urnas, Milei terá pouco tempo para rever estratégia do governo
O presidente da Argentina, Javier Milei, faz um discurso após o partido peronista opositor da Argentina triunfar nas eleições legislativas na província de Buenos Aires, deixando o partido governista de Milei em um distante segundo lugar, segundo apuração oficial provisória, na sede do partido La Libertad Avanza, em La Plata, província de Buenos Aires, Argentina
REUTERS/Tomas Cuesta
Foi uma surra em Javier Milei. Sob pressão de escândalos de corrupção, da desconfiança dos mercados e da fragilidade diante do Congresso, o presidente se envolveu pessoalmente nas eleições legislativas do maior distrito eleitoral do país —a província de Buenos Aires— pregando o tudo ou nada contra o peronismo. Saiu gravemente ferido nesta primeira derrota avassaladora nas urnas em 21 meses de governo.
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A distância de 13 pontos separou a coalizão peronista Força Pátria do partido A Liberdade Avança, liderado pelo presidente argentino. A legenda governista perdeu em seis das oito seções eleitorais. O golpe sofrido no mais importante reduto eleitoral do país serve também como o termômetro que moldará a campanha nas eleições legislativas para o Congresso, dentro de dois meses.
A fisionomia abatida e a voz trêmula do presidente expressaram “a clara derrota política”, conforme ele próprio descreveu. Milei traçou um paradoxo, propondo uma profunda autocrítica do governo, mas, conforme advertiu, sem recuar “um milímetro no rumo do governo”.
“Não estamos dispostos a abrir mão de um modelo que pegou uma inflação de 300% e reduziu-a a 20%. A linha de ação não só está confirmada, como vamos acelerá-la e aprofundá-la ainda mais”, previu.
No discurso que marcou a derrota nas urnas, o presidente se apresentou na companhia da irmã Karina e do ministro da Economia, Luis Caputo, numa demonstração de que o chamado triângulo de ferro do governo está protegido e unido para uma esperada reação adversa dos mercados, nesta segunda-feira.
O castigo das urnas, no entanto, parece ter refletido, de imediato, a turbulência que fragilizou o governo nas últimas semanas: derrotas sucessivas no Parlamento, a pressão na taxa de câmbio e o vazamento de áudios que vinculavam Karina Milei, a principal estrategista do presidente, que ele chama de Chefe, num esquema de subornos na compra de medicamentos para a Agência Nacional para a Deficiência.
“Em suma, foi uma série de graves erros que deixaram o governo numa posição ainda mais frágil, justamente quando precisava desesperadamente ser ratificado e fortalecido pelo voto popular, e não o contrário, como aconteceu ontem”, resumiu o colunista Cláudio Jaquelin, do “La Nación”.
Milei alardeou que as eleições deste domingo serviriam para cravar o último prego do caixão do kirchnerismo. Pela analogia traçada pelo presidente, as urnas mostraram que os outros pregos estavam frouxos. A vitória peronista consolidou o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, alçado a principal candidato da oposição. Quanto ao presidente libertário, sobrou pouquíssimo tempo, até 22 de outubro, para rever a estratégia do governo.

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.