Donald Trump desloca submarinos depois de ameaça da Rússia
Há alguns anos, ele ainda era considerado um reformista liberal dentro do Kremlin. Desde o início da ofensiva da Rússia na Ucrânia, porém, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev não para de fazer declarações bombásticas, provocando respostas irritadas do presidente dos EUA, Donald Trump.
Em suas contas no Telegram e na rede social X, o ex-presidente (2008-2012) e ex-primeiro-ministro (2012-2020) de 59 anos adotou um tom muito agressivo desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022.
▶️ Contexto: Nos últimos dias, Trump vem trocando farpas com Medvedev, que ocupa atualmente a vice-presidência do Conselho de Segurança do país.
Na segunda-feira (28), Trump afirmou estar decepcionado com Moscou e deu um prazo de 10 dias para um cessar-fogo com a Ucrânia. Caso contrário, ele prometeu endurecer as sanções contra o governo russo.
Medvedev respondeu no mesmo dia, por meio de uma rede social. O russo acusou o presidente americano de jogar o “jogo do ultimato” e disse que as pressões representam “um passo em direção à guerra”.
Na quarta-feira (30), Trump voltou ao ataque, chamou Medvedev de “fracassado” e disse que o russo precisava ter cuidado com as palavras.
Horas depois, Medvedev usou seu canal do Telegram para dizer que o presidente americano estava nervoso e fez uma ameaça: “Trump deveria se lembrar de como a lendária ‘Mão Morta’ pode ser perigosa”, em referência ao sistema que ativa armas nucleares russas mesmo após a morte dos líderes do país.
Dmitry Medvedev dá entrevista coletiva durante visita oficial a Le Havre, oeste da França, em 24 de junho de 2019
Loïc Venance/AFP
Ninguém sabe se as declarações de Medvedev representam uma expressão da linha dura dentro da elite russa ou um meio indireto de Moscou para desafiar o Ocidente enquanto preserva os canais diplomáticos tradicionais.
Distante de sua imagem anterior, de seriedade e retidão, Medvedev agora utiliza linguagem vulgar para citar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, celebra o suposto declínio dos europeus e menciona com frequência a possibilidade de uma guerra nuclear com o Ocidente.
Suas mensagens geralmente têm pouca repercussão, algo condizente com sua pouca influência na Rússia atualmente, dominada por seu correligionário, o presidente Vladimir Putin.
Mas suas provocações finalmente irritaram o presidente dos Estados Unidos, que na sexta-feira ordenou o envio de “dois submarinos nucleares nas regiões apropriadas, por precaução, caso estas declarações insensatas e incendiárias sejam mais do que isso”.
Trump explicou aos jornalistas que reagiu desta maneira porque o ex-presidente russo havia ameaçado utilizar armamento nuclear.
Após alguns meses em que parecia mais tranquilo em relação ao presidente republicano, Medvedev mencionou a “Mão Morta”, uma referência a um sistema automatizado ultrassecreto criado pela União Soviética durante a Guerra Fria para assumir o controle do arsenal nuclear em caso de destruição da cadeia de comando.
Medvedev também é muito crítico aos líderes europeus e acusou o chanceler alemão, Friedrich Merz, antes de antes de assumir o posto, de “mentir como (Joseph) Goebbels”, o ministro da Propaganda da Alemanha nazista.
Também celebrou as dificuldades enfrentadas pela “malvada” presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, antes da partida de abertura da Copa do Mundo 2018 entre Rússia e Arábia Saudita
Alexei Druzhinin/Sputnik/Kremlin/Pool via AP
Proximidade com Obama
Nascido em Leningrado (hoje São Petersburgo), como Putin, Medvedev, com formação de jurista e considerado um dos líderes da ala liberal do “putinismo”, fez toda sua carreira à sombra de seu mentor.
Contudo, ele foi marginalizado pela ascensão do clã rival dos “siloviki” (militares e serviços de segurança).
Nos anos 1990, Medvedev ingressou no Comitê de Relações Exteriores da prefeitura de São Petersburgo, então comandado por Putin, que o transferiu para Moscou em 1999.
Em 2000, Putin foi eleito presidente e nomeou Medvedev como chefe do gabinete do Kremlin. Cinco anos depois, ele assumiu o cargo de vice-primeiro-ministro.
Em 2008, Medvedev foi eleito presidente – Putin não concorreu, pois não poderia ter mais de dois mandatos consecutivos na época. Mas, no que foi então chamado de “permutação”, Putin foi seu primeiro-ministro antes de retomar o posto de chefe de Estado em 2012.
Como presidente, Medvedev foi próximo de seu então colega americano Barack Obama e, em 2010, expressou a vontade de retomar a relação com os Estados Unidos.
Fã do grupo americano Linkin Park, ele tinha na época uma imagem de modernidade e chegou a visitar o Vale do Silício, onde recebeu um iPhone das mãos de Steve Jobs, o fundador da Apple, e abriu uma conta no Twitter (agora X) na sede da empresa.
Na política internacional, a aproximação com Washington se traduziu na abstenção da Rússia (ao invés do veto) em uma votação em 2011 de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia.
A decisão, que permitiu à Otan iniciar a intervenção militar que levou à derrubada de Muammar Kadhafi, não agradou a Putin, então primeiro-ministro e efetivamente mais forte politicamente que o sucessor.
Em 2012, Medvedev virou primeiro-ministro após o retorno de Putin ao Kremlin e, pouco a pouco, foi perdendo protagonismo. Em 2020, ele foi destituído e, desde então, só tem voz com suas mensagens provocadoras.
Há alguns anos, ele ainda era considerado um reformista liberal dentro do Kremlin. Desde o início da ofensiva da Rússia na Ucrânia, porém, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev não para de fazer declarações bombásticas, provocando respostas irritadas do presidente dos EUA, Donald Trump.
Em suas contas no Telegram e na rede social X, o ex-presidente (2008-2012) e ex-primeiro-ministro (2012-2020) de 59 anos adotou um tom muito agressivo desde o início da ofensiva russa contra a Ucrânia em fevereiro de 2022.
▶️ Contexto: Nos últimos dias, Trump vem trocando farpas com Medvedev, que ocupa atualmente a vice-presidência do Conselho de Segurança do país.
Na segunda-feira (28), Trump afirmou estar decepcionado com Moscou e deu um prazo de 10 dias para um cessar-fogo com a Ucrânia. Caso contrário, ele prometeu endurecer as sanções contra o governo russo.
Medvedev respondeu no mesmo dia, por meio de uma rede social. O russo acusou o presidente americano de jogar o “jogo do ultimato” e disse que as pressões representam “um passo em direção à guerra”.
Na quarta-feira (30), Trump voltou ao ataque, chamou Medvedev de “fracassado” e disse que o russo precisava ter cuidado com as palavras.
Horas depois, Medvedev usou seu canal do Telegram para dizer que o presidente americano estava nervoso e fez uma ameaça: “Trump deveria se lembrar de como a lendária ‘Mão Morta’ pode ser perigosa”, em referência ao sistema que ativa armas nucleares russas mesmo após a morte dos líderes do país.
Dmitry Medvedev dá entrevista coletiva durante visita oficial a Le Havre, oeste da França, em 24 de junho de 2019
Loïc Venance/AFP
Ninguém sabe se as declarações de Medvedev representam uma expressão da linha dura dentro da elite russa ou um meio indireto de Moscou para desafiar o Ocidente enquanto preserva os canais diplomáticos tradicionais.
Distante de sua imagem anterior, de seriedade e retidão, Medvedev agora utiliza linguagem vulgar para citar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, celebra o suposto declínio dos europeus e menciona com frequência a possibilidade de uma guerra nuclear com o Ocidente.
Suas mensagens geralmente têm pouca repercussão, algo condizente com sua pouca influência na Rússia atualmente, dominada por seu correligionário, o presidente Vladimir Putin.
Mas suas provocações finalmente irritaram o presidente dos Estados Unidos, que na sexta-feira ordenou o envio de “dois submarinos nucleares nas regiões apropriadas, por precaução, caso estas declarações insensatas e incendiárias sejam mais do que isso”.
Trump explicou aos jornalistas que reagiu desta maneira porque o ex-presidente russo havia ameaçado utilizar armamento nuclear.
Após alguns meses em que parecia mais tranquilo em relação ao presidente republicano, Medvedev mencionou a “Mão Morta”, uma referência a um sistema automatizado ultrassecreto criado pela União Soviética durante a Guerra Fria para assumir o controle do arsenal nuclear em caso de destruição da cadeia de comando.
Medvedev também é muito crítico aos líderes europeus e acusou o chanceler alemão, Friedrich Merz, antes de antes de assumir o posto, de “mentir como (Joseph) Goebbels”, o ministro da Propaganda da Alemanha nazista.
Também celebrou as dificuldades enfrentadas pela “malvada” presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversa com o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, antes da partida de abertura da Copa do Mundo 2018 entre Rússia e Arábia Saudita
Alexei Druzhinin/Sputnik/Kremlin/Pool via AP
Proximidade com Obama
Nascido em Leningrado (hoje São Petersburgo), como Putin, Medvedev, com formação de jurista e considerado um dos líderes da ala liberal do “putinismo”, fez toda sua carreira à sombra de seu mentor.
Contudo, ele foi marginalizado pela ascensão do clã rival dos “siloviki” (militares e serviços de segurança).
Nos anos 1990, Medvedev ingressou no Comitê de Relações Exteriores da prefeitura de São Petersburgo, então comandado por Putin, que o transferiu para Moscou em 1999.
Em 2000, Putin foi eleito presidente e nomeou Medvedev como chefe do gabinete do Kremlin. Cinco anos depois, ele assumiu o cargo de vice-primeiro-ministro.
Em 2008, Medvedev foi eleito presidente – Putin não concorreu, pois não poderia ter mais de dois mandatos consecutivos na época. Mas, no que foi então chamado de “permutação”, Putin foi seu primeiro-ministro antes de retomar o posto de chefe de Estado em 2012.
Como presidente, Medvedev foi próximo de seu então colega americano Barack Obama e, em 2010, expressou a vontade de retomar a relação com os Estados Unidos.
Fã do grupo americano Linkin Park, ele tinha na época uma imagem de modernidade e chegou a visitar o Vale do Silício, onde recebeu um iPhone das mãos de Steve Jobs, o fundador da Apple, e abriu uma conta no Twitter (agora X) na sede da empresa.
Na política internacional, a aproximação com Washington se traduziu na abstenção da Rússia (ao invés do veto) em uma votação em 2011 de uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a Líbia.
A decisão, que permitiu à Otan iniciar a intervenção militar que levou à derrubada de Muammar Kadhafi, não agradou a Putin, então primeiro-ministro e efetivamente mais forte politicamente que o sucessor.
Em 2012, Medvedev virou primeiro-ministro após o retorno de Putin ao Kremlin e, pouco a pouco, foi perdendo protagonismo. Em 2020, ele foi destituído e, desde então, só tem voz com suas mensagens provocadoras.