New York Times sobre Bolsonaro: 'como tentar dar um golpe — e fracassar'
Jornal americano revisou documentos que estão sendo usados tanto pelos promotores como pela defesa de Bolsonaro no julgamento
EPA via BBC
O jornal americano “New York Times” publicou uma reportagem na sua edição impressa desta quarta-feira sobre como o ex-presidente Jair Bolsonaro teria tentado dar um golpe de Estado no Brasil e fracassado.
“Jair Bolsonaro teve apenas nove semanas para executar um plano arriscado e extraordinário. Com a ajuda de aliados, dizem os procuradores, ele pretendia anular a eleição presidencial de outubro de 2022, que havia perdido”, diz a reportagem do New York Times.
O título da reportagem é “Como tentar dar um golpe e fracassar”.
O jornal americano disse que revisou “dezenas de horas de depoimentos e centenas de páginas de documentos policiais e do Ministério Público de uma investigação que durou quase dois anos” para entender o processo contra o ex-presidente.
“Os promotores e a defesa de Bolsonaro citam [as mesmas] provas para contar histórias bastante divergentes”, diz o jornal.
“Para os investigadores, Bolsonaro e dezenas de ministros, militares e assessores trabalharam obstinadamente para semear dúvidas sobre o resultado da eleição; tentaram mobilizar líderes militares para anular a votação; e elaboraram planos para prender, ou mesmo assassinar, supostos inimigos.”
“Para Bolsonaro e seus aliados, o caso se baseia em mentiras e evidências frágeis com o objetivo de sabotar seu retorno político nas eleições presidenciais do próximo ano. Ele nega ter planejado matar Lula e afirma que o que a polícia descreve como uma tentativa de golpe foi simplesmente seu esforço para estudar ‘maneiras dentro da Constituição’ de permanecer no poder após perder uma eleição que, segundo ele, lhe foi roubada.”
A reportagem destaca depoimentos do auxiliar Mauro Cid que indicam que o plano de Bolsonaro teria começado em outubro de 2022, com a derrota do ex-presidente nas urnas.
O primeiro passo foi desacreditar as urnas eletrônicas nas redes sociais.
“Mas o plano traçado por Bolsonaro e seus aliados, dizem os investigadores, foi muito além de tentar provocar uma revolta popular”, afirma a reportagem.
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O jornal destaca um documento elaborado no dia 9 de novembro nos escritórios da Presidência da República com um suposto plano para assassinar autoridades.
“Lula e seu companheiro de chapa, Geraldo Alckmin, seriam assassinados com o uso de ‘veneno ou agentes químicos’ ou ‘armamento letal, como explosivos’, dizia o documento, escrito pelo general Mário Fernandes, um dos principais assessores de Bolsonaro.”
O jornal destaca depoimentos de Fernandes em julho no qual ele alega que o plano foi destruído e nunca foi mostrado a ninguém.
Outro ponto relatado na reportagem é uma suposta reunião realizada pelo vice de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, em sua casa, para discutir a implementação de um plano de golpe. A defesa de Braga Netto nega que tenha havido uma reunião, e acusa Mauro Cid de mentir.
O jornal relata também documentos que mostram que teria havido uma reunião no dia 7 de dezembro com a presença de Bolsonaro para discutir a declaração de um estado de emergência. Isso é negado pela defesa do ex-presidente.
Uma outra reunião, em 14 de dezembro, é citada — onde Bolsonaro teria pressionado os comandantes das Forças Armadas a aderir a seu plano, mas teria recebido uma resposta negativa do general Marco Antônio Freire Gomes, do Exército.
A reportagem conclui que “depois que comandantes militares se recusaram a participar de qualquer esforço para subverter a eleição, os promotores dizem que os aliados de Bolsonaro abandonaram abruptamente seus planos”.

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.