Quem é Rodrigo Paz, eleito presidente na Bolívia, e como ficará relação do país com o BrasilQuem é Rodrigo Paz, eleito presidente na Bolívia, e como ficará relação do país com o Brasil
Resultados preliminares indicam que candidato de centro direita Rodrigo Paz foi eleito o novo presidente do país
A Bolívia elegeu, neste domingo (19), o senador Rodrigo Paz, como presidente do país. A votação, em segundo turno foi histórica para o país e marcou uma guinada à direita do país após 20 anos de governos de esquerda.
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Paz, de centro-direita, derrotou Jorge Tuto Quiroga, de direita e assumirá o cargo em 8 de novembro. O senador, de 58 anos, é filho de um ex-presidente da nação andina. Nasceu no exílio durante a ditadura militar e foi educado nos Estados Unidos.
Sua plataforma moderada conquistou eleitores desiludidos com o Movimento ao Socialismo (MAS) — partido fundado pelo ex-presidente Evo Morales — em meio a uma profunda crise econômica. Durante a campanha, Paz se voltou a propostas para neutralizar a polarização no país. Filho de um ex-presidente, Jaime Paz Zamora, ele indicou diálogo com Lula.
Além disso, em relação ao Brasil, mesmo discordando do governo Lula, Paz afirmou em campanha que “o Brasil é nosso principal parceiro estratégico” e, por isso, quer fortalecer a parceria da Bolívia com o país, mantendo a participação do país andino no Mercosul e no Brics. Durante a campanha, também propôs mais cooperação econômica e projetos de infraestrutura conjuntos. (Leia mais sobre os planos de governo de Paz abaixo).
Como pensa o presidente eleito
Segurança Pública: com um discurso mais ameno e menos combativo que seu rival político, diz frequentemente que pretende “fortalecer as instituições”, especialmente o sistema judicial, para combater o crime organizado. “A justiça é a base para o progresso de qualquer país, e precisamos de instituições fortes e independentes que assegurem a lei para todos”, disse Paz durante a campanha.
Entre as medidas previstos no plano de governo de Paz estão a modernização e profissionalização das Forças Armadas e a “implantação de tecnologias digitais avançadas”, sem detalhar como seriam.
Economia: sua proposta central para fazer a economia engatar novamente foi batizada de “capitalismo para todos”. Na prática, significa promover crescimento por meio de incentivos ao setor privado e, ao mesmo tempo, manter programas sociais para camadas mais pobres. Também prometeu incentivos à formalização da economia informal, corte de gastos supérfluos e descentralização do Estado. Nas propostas para a economia, é onde mais o senador acena para a grande camada de eleitores da esquerda, iludidos com o governo socialista:
“A Bolívia não é socialista”, disse Paz durante um evento de campanha no mês passado. “A Bolívia trabalha com capital, trabalha com dinheiro… porque 85% da economia é informal. Não queremos austeridade severa, mas uma economia forte, justa e voltada para gerar oportunidades a todos os bolivianos.”
Mas críticos das propostas dizem que as promessas são irreais. “O rombo fiscal é imenso”, disse o pesquisador do Instituto de Finanças Internacionais, Jonathan Fortun, à agência de notícias Reuters. “A questão não é se um ajuste virá, mas quão rápido e quão disruptivo ele será.”
Relação com governo Trump: embora tenha fugido de fazer declarações sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falou de “aproximação pragmática” com os EUA e garantiu que não se pautará por alinhamentos ideológicos na diplomacia internacional. É visto como um moderado nas relações com outros países. “Ideologias não colocam comida na mesa”, disse ele.
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Infância e família
Paz nasceu em Santiago de Compostela, Espanha, durante o exílio de sua família sob a ditadura militar boliviana. Passou a infância estudando em colégios jesuítas e se formou pela American University, em Washington. Seu pai é o ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou a Bolívia de 1989 a 1993.
Seu pai foi o único sobrevivente de um acidente aéreo na Bolívia — episódio que depois se revelou ser um atentado direcionado, ocorrido antes do golpe de 1980. Sua mãe também sobreviveu a um misterioso acidente de carro durante o exílio, eventos que, segundo ele, marcaram sua infância e despertaram sua vocação política.
Quando a família retornou à Bolívia nos anos 1980, Paz iniciou sua carreira política em Tarija, avançando de vereador a senador. Ao longo dos anos, aliou-se a partidos de diferentes espectros ideológicos, desde o Movimento da Esquerda Revolucionária de seu pai até coalizões de direita.
Nesta eleição, posicionou-se como candidato de centro, prometendo manter programas sociais para os pobres ao mesmo tempo em que incentiva o crescimento liderado pelo setor privado. Seu plano econômico inclui incentivos fiscais para pequenas empresas e autônomos, além de maior autonomia fiscal para governos regionais.
“Ideologias não colocam comida na mesa”, afirmou.
Assim como seu oponente Quiroga, Paz disse querer melhorar as relações diplomáticas com países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, após anos de alinhamento da Bolívia com Rússia e China.
Paz manifestou preocupação com o aumento da dívida externa do país, dizendo que é preciso renegociar com urgência. Confirmou ter se reunido no mês passado, em Washington, com representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“As dívidas são um acordo que estamos renegociando”, declarou.
Rodrigo Paz durante a votação na Bolívia – 19/10/2025
REUTERS/Claudia Morales
*Com informações da agência de notícias Reuters

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.