Trump x Maduro: de troca de ameaças a bombardeio de barco e envio de caças, entenda escalada de tensão
Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela
Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters
A tensão entre Estados Unidos e Venezuela aumentou nesta sexta-feira (5) com a ordem de Trump para o envio de 10 jatos F-35 americanos ao Caribe depois que caças venezuelanos armados sobrevoaram o destróier norte-americano que está no mar do Caribe.
Os episódios ocorreram dois dias após militares dos EUA bombardearem um barco no Caribe. Donald Trump disse que a embarcação estava carregada com drogas e pertencia à gangue venezuelana Tren de Aragua — considerada terrorista pelo governo americano.
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Ao comentar o bombardeio, Trump acusou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de controlar o Tren de Aragua. Ele também o responsabilizou por “assassinatos em massa, tráfico de drogas, tráfico sexual e atos de violência e terror nos Estados Unidos”.
Sobre o sobrevoo dos caças venezuelanos, o Departamento de Defesa americano confirmou a informação e chamou a ação de “altamente provocativa”.
A embarcação americana está no sul do Caribe em uma operação contra o tráfico internacional de drogas. Há outros navios dos EUA na região, além de um submarino nuclear.
Entenda a cronologia da tensão entre os países
O embate entre Trump e Maduro não é de agora – e da sequência à tensão entre os países desde o governo de Hugo Chávez, entre 1999 e 2013. Em 2017, em seu primeiro mandato, Donald Trump chegou a falar em “opção militar” para a Venezuela.
Em janeiro de 2019, Maduro rompeu relações diplomáticas com os EUA poucas horas depois de Juan Guaidó se declarar presidente interino e receber apoio de Washington e do Brasil. Na ocasião, voltou a circular a ameaça de uma intervenção militar americana.
Já em março de 2020, os EUA acusaram formalmente Maduro de narcoterrorismo e ofereceram uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levassem à captura do líder chavista.
A tensão atual entre os países, no entanto, começou a crescer desde que os Estados Unidos aumentaram a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro, que o país acusa de “chefiar” o Cartel de los Soles e o Tren de Aragua.
📅 7 de agosto: aumento de recompensa
Em 7 de agosto deste ano, os Estados Unidos elevaram para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Nicolás Maduro. O anúncio foi feito pela procuradora-geral Pam Bondi.
Os EUA já haviam divulgado, em 28 de julho, um cartaz oferecendo US$ 25 milhões (cerca de R$ 140 milhões) pela captura do líder venezuelano.
Segundo Bondi, o valor foi dobrado porque Maduro representa uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos e seria, nas palavras dela, “um dos maiores narcotraficantes do mundo”.
📅8 de agosto: governo Maduro responde
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino Lopez, foi à TV no dia 8 de agosto para rebater as acusações dos Estados Unidos contra Maduro.
Um dia após o governo Trump dobrar a recompensa por informações sobre Maduro, o comandante das Forças Armadas venezuelanas classificou as declarações feitas pelos departamentos de Estado e Justiça como “tolas”.
Vladimir Padrino Lopez também teve uma recompensa fixada pelos EUA por informações sobre ele, assim como Diosdado Cabello Rondón, ministro do Interior, Justiça e Paz.
📅14 de agosto: EUA começam a enviar tropas
Em 14 de agosto, surgiram informações de que os Estados Unidos estariam enviando tropas para a América Latina para enfrentar ameaças ligadas a cartéis de drogas na região.
Segundo duas fontes ouvidas pela agência Reuters, o Departamento de Defesa americano deslocou forças aéreas e navais para o sul do Mar do Caribe.
A movimentação ocorreu após Trump assinar, de forma secreta, uma ordem autorizando o Pentágono a usar poder militar em países latino-americanos no combate ao narcotráfico. A informação foi revelada em reportagem do jornal norte-americano The New York Times.
📅19 de agosto: “toda força” contra Maduro
A porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, afirmou no dia 19 de agosto que Trump usaria “toda a força” contra o regime venezuelano.
“Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o tráfico de drogas”, disse Leavitt, a jornalistas, na Casa Branca.
Governo Trump diz que vai usar ‘toda a força’ contra Maduro na Venezuela
No mesmo dia, Maduro anunciou a mobilização de 4,5 milhões de milicianos em resposta ao que chamou de “ameaças” dos Estados Unidos.
“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura, com mais de 4,5 milhões de milicianos, de todo o território nacional, milícias preparadas, ativadas e armadas”, anunciou em ato transmitido pela TV, ao ordenar “tarefas” perante “a renovação das ameaças” dos EUA contra a Venezuela.
Ainda naquela semana, os Estados Unidos deslocaram três navios de guerra para o sul do Caribe, próximos à costa da Venezuela, alegando combater ameaças de cartéis de drogas, segundo agências de notícias.
📅28 de agosto: Maduro visita tropas
Maduro aparece de farda militar e fala em ‘defender a soberania’
Nicolás Maduro apareceu de farda militar ao visitar tropas em 28 de agosto, mesmo dia em que navios de guerra dos EUA começaram a chegar no sul do Caribe.
Maduro falou em “defender a paz e a soberania nacional” contra uma “guerra psicológica” empregada pelo governo de Donald Trump e disse que o governo da Colômbia se uniu aos esforços dos venezuelanos para reforçar a segurança na fronteira.
“Hoje posso dizer, depois de 20 dias seguidos de anúncios, ameaças, guerra psicológica, 20 dias de cerco contra a nação venezuelana, que hoje estamos mais fortes que ontem, mais preparados para defender a paz, a soberania e a integridade territorial do que ontem — muito mais”, afirmou o líder venezuelano.
📅29 de agosto: Venezuela pede ajuda à ONU
O governo da Venezuela enviou, em 29 de agosto, uma carta à Organização das Nações Unidas (ONU) pedindo ajuda diante do avanço da frota enviada pelo governo norte-americano ao Caribe.
No texto assinado por Nicolás Maduro e endereçado ao secretário-geral da ONU, António Guterres, Caracas solicitou que a ONU exija que o governo de Donald Trump cancele a operação naval a caminho da costa da Venezuela. E chamou a ofensiva de Trump de “ameaça gravíssima”.
📅1° de setembro: Maduro fala em ‘luta armada’
Maduro fala em luta armada na Venezuela
Na segunda-feira, Maduro prometeu que a Venezuela entrará em uma “luta armada” caso seja agredida. Ele também indicou que oito embarcações militares dos Estados Unidos estavam próximas do país.
Em uma rara entrevista coletiva à imprensa, Maduro afirmou que os navios de guerra, além de um submarino, “apontam” para o território venezuelano e carregam cerca de 1.200 mísseis, todos direcionados à Venezuela.
O presidente classificou o envio das embarcações como “a maior ameaça à América Latina do último século” e declarou que a Venezuela não se curvará a pressões externas.
Também na segunda-feira, o governo da Guiana, rival histórico da Venezuela, manifestou apoio à incursão militar dos EUA em águas do Caribe. Caracas reagiu acusando o país vizinho de fomentar uma “frente de guerra” no continente.
Venezuela e Guiana travam uma das principais disputas territoriais da América Latina pelo controle da região de Essequibo, território guianense que Caracas reivindica. Em 2024, Maduro promoveu um referendo sobre a anexação da área e afirmou que a maioria dos votos foi favorável.
📅2 de setembro: EUA atacam barco no Caribe
VÍDEO mostra EUA atacando barco no Caribe
Um vídeo divulgado por Trump, mostrou o momento em que militares norte-americanos atacaram uma embarcação no Caribe nesta terça-feira.
Segundo o governo dos EUA, o barco estava carregado com drogas, e 11 pessoas morreram.
Em uma rede social, Trump disse que militares dos EUA atacaram o barco do grupo Tren de Aragua. A gangue venezuelana é classificada como organização terrorista pelo governo norte-americano.
Caças venezuelanos sobrevoam navio americano no Caribe
📅4 de setembro: caças venezuelanos sobrevoam navio americano
Dois caças venezuelanos armados sobrevoaram o destróier norte-americano USS Jason Dunham no mar do Caribe, segundo um oficial dos EUA.
O Departamento de Defesa americano confirmou a informação e chamou a ação de “altamente provocativa”.
A imprensa americana informou que o Pentágono classificou a ação como uma tentativa de “demonstração de força” da Venezuela. O destróier dos EUA não reagiu ao sobrevoo, que foi feito com caças F-16.
“O cartel que controla a Venezuela é fortemente advertido a não tentar, de nenhuma forma, obstruir, dissuadir ou interferir nas operações de combate ao narcotráfico e ao terrorismo conduzidas pelas forças militares dos Estados Unidos”, publicou o Pentágono.
Militares da Marinha dos EUA se posicionam no entorno de um caça F-35, no porta-aviões USS George Washington
Victor R. Caivano/AP Photo
📅 05 de setembro de 2025: EUA ordenam envio de 10 jatos F-35
Horas depois, os EUA ordenaram o envio de 10 jatos F-35 para Porto Rico, que fica na região do Caribe, para dar suporte às operações contra os cartéis de drogas. Os caças irão à base aérea em Porto Rico, próximo à região onde navios de guerra americanos estão mobilizados.
Duas autoridades do governo americano ouvidas pela Reuters disseram que os caças devem chegar a Porto Rico até o fim da próxima semana, e foram designadas para conduzir operações contra organizações designadas como narcoterroristas que atuam no sul do Caribe.
Poderio militar da Venezuela.
Gui Sousa/Equipe de arte g1
Perfil da Venezuela
Bruna Azevedo/g1
*sob supervisão de Ricardo Gallo
VÍDEOS: mais assistidos do g1

By Marsescritor

MARSESCRITOR tem formação em Letras, é também escritor com 10 livros publicados.